sábado, 17 de agosto de 2019

CIGARRO NÃO É COISA DE CRIANÇA?! Reminiscências!





Por MAGNO HOLANDA

    Todos sabemos que cigarro é coisa séria e que mata milhões de pessoas no mundo inteiro. Cigarro definitivamente não é coisa de criança, nem de adulto.

     ... mas preciso desmentir minha própria fala e dizer que em certo sentido é sim coisa de criança. Pelo menos foi da minha infância. Cheguei a dar um trago, apenas. Não gostei, mas meu contato com ele, de alguma forma, era frequente.

     ... começando minha história, o cigarro foi marcante porque seu cheiro trazia no meu inconsciente a esperança de um pai. Parece maluco isso?! Pai sempre foi ausente [muito mais de mim] e nós, filhos carentes. Então quando percebíamos o cheiro de cigarro, aquilo significava a sua presença rompendo a madrugada, trazendo consigo maçãs estragadas e um litro de leite engarrafado.

     Também, na magia de criança, achávamos incríveis seus bilhetes, aos montes, numa mala sobre o guarda-roupa velho do nosso quarto. Aquelas letras eram incríveis, poéticas, às vezes indecifráveis, sobre um papel branco com bordas prateadas ou douradas das caixas de cigarro, nesse caso, quase sempre do PLAZA.



     Lembro-me das diversas viagens que fiz, sob um sol infernal, para a Rua do Sol [O calor de lá justifica bem o nome], carregando um desses bilhetes, solicitando ao Seu Zé da batata que vendesse uns quilos fiado.

     Ah, as brincadeiras com notas de cigarro eram incríveis! Subíamos e descíamos Ruas, num jogo de pedras, e quem acertasse a pedra do outro ganhava uma nota [era como chamávamos as embalagens de cigarro. Cada uma delas tinha um valor: Hollyood, 1 mil; Belmont, 2 mil; Plaza, 5 mil; continental, 10 mil, e assim por diante.].




     Andávamos pelas Ruas ostentando nossas riquezas com bolos de notas de cigarro, ora ganhos na pedra, ora garimpados nos lixos da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Ora, minha gente, esse é um conto real e de minha imaginação infantil. É a vivência de pessoas simples, crianças, moradoras das Ruas campinenses na década de 1990. 



     As mais importantes notas, tipo Charme e Malboro, não eram fáceis de encontrar. Parece que só nos melhores lixos. Claro! Guardávamos segredos do lugar. Diga-se de passagem, a maldade cometida por Hamilton biscoito, que contava sobre os lixos do Continental, bairro campinense. Prestávamos muita atenção às histórias contadas por ele. Parece que aquele lugar era mágico. Ficávamos a imaginar. Ás vezes, queríamos até duvidar, mas ele nos mostrava muitas notas que nos fascinavam.



    Sobre o cigarro, não o associávamos ao mal ou à doença, ora por nossa inocência ora pelas belas propagandas que sempre vinculavam o cigarro às belas mulheres, às celebridades, ou à natureza. Mas, enfim, naquela brincadeira toda, ficávamos ricos em nossa imaginação de criança, um acalento a nossa pobreza. Esse tipo de imaginação pouco vemos hoje. Não percebemos mais essa inocência, fantasia, calmaria. Hoje é tudo muito rápido. As crianças já nascem “adultas”.

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