Descendo por aquela
Rua deserta, branca....!,
Olhava para o alto
e lá estava ao meu lado aquele grande muro branco, puro?
Era o muro do cemitério!
De repente,
bateu-me uma tensão, ... um medo!
Parei em frente ao
portão do cemitério, com suas grades abertas. Surgia ali diante dos batentes, pois
a entrada ficara muito alta [Havia ali batente duplo para a direita e para a
esquerda], três homens dançantes, com um som de música hit. Pinoteavam de
alegria, pois havia falecido seu irmão que tanto sofrera na vida, pois fora
acometido de câncer aos trintas anos de idade. Sofreu até os 45 anos. Pura
tormenta, segundo disse um deles.
Um desses homens
estava sobre uma cadeira de rodas, com a cabeça caída para o lado direito,
babando um pouco, mas vestido de paletó e calça social. Um de cada cor,
especificamente com a calça verde e paletó vinho. Nada a ver. Ainda assim
sorriu, pela vida! O segundo era homem comum, crente, vestido de social com
camisa solta e amassada, parecia ter dormido com aquela roupa, silencioso. O
terceiro, de terno, simples como os pastores de igrejas da periferia de Campina
Grande, na Paraíba. Esse era muito falante, alegre e tinha um aspecto do
delegado do alto da Compadecida. Cara engraçado. Foi um prazer conhecê-lo.
Aquele crente saiu sorrindo e pinoteando em seu hit de alegria, dando glórias a
Deus!
Fiquei curioso para ver a cova de seu irmão e
fui entrar no cemitério com medo e coragem ao mesmo tempo. Sem entender bem
isso. Quando toquei o portão, um senhor tocou-me as costas. Que susto! Com
flores roxas, ele pediu-me que a pegasse e entregasse a Katia, uma moça que
estaria por trás da primeira cova a direita. Estranho isso. Mas um favor não se
nega a ninguém. Ele disse que tinha medo da morte.
Virei-me e entrei,
pesadamente. Quando de repente um vulto a esquerda. Era a menina moça que se
escondera. Kátia? Tenho flores para você. Eu via a sua sombra ao chão, mas ela
não quis sair de detrás do túmulo. Ficou ali escondida de mim. Não sei por quê.
Joguei aquelas flores sobre a sombra e segui, com arrepios e muito medo.
Comovido, voltei e fui olhar atrás do túmulo. Queria ver aquela menina. Ela não
estava lá. Para onde deve ter ido, se foi, eu me perguntava. O arrepio
aumentou. Vi o vulto correndo. Com medo disse que não tinha medo dela.
Seguindo entre as
covas, senti muita vida entre os mortes. Todos eles queriam me dizer algo, me
contar, confessar-se, pedir para levar um recado aos familiares. Não ouvia suas
vozes. Eu as sentia na sensibilidade de um poeta. Era muita energia. Elas se
aglomeravam ao meu lado, um tumulto. Elas se empurravam. Queriam ouvir minhas
palavras rejeitadas pelos vivos. Discursei-lhes!!!
Engrandeci-me, mesmo
em meio ao medo. Corri por entre as energias vivas ainda no misto de medo e
coragem, de heroísmo e covardia, pulando feito garrote por entre as covas e
fui-me dizendo adeus. Acenavam com as mãos, que não tinham, alegres pela minha
visita.....
MAGNO HOLANDA
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