sábado, 9 de julho de 2016

LEMBRANÇAS: UMA VISITA AO PASSADO (ATUALIZADO)




Por MAGNO HOLANDA

     
     ... após mais um daqueles momentos difíceis que passamos, com dilemas existenciais, pensativo, saí por aí perambulando, por volta das 23h, sendo mais preciso. Noite muito escura, céu repleto de estrelas, lindas, encantadoras, ...., mas caminhava desgostoso...

     .... caminhei...., caminhei..., naquela noite estrelada, azulada, como quem caminha de volta ao passado, mas sem sabê-lo!

     Olha lá, Em frente a casa de Dona Nevinha, acho, Damião, Amauri, Ana Maria, Aninha brincando. Parece-me que havia outros, mas não tenho certeza de quem eram. Acho que Tâmisa Canuto, Corcorâ [Vladimir], Vandilson [Cebola], Leca, Robério [com os dentes de Tico e teco], Manu e Márcio Aranha. 

    Dona Nevinha acenava para mim. Viu-me. Loiola jogando couros no campo do Vila Nova [time verde e branco, com sede na esquina de baixo, que tinha em seu elenco craques como o meia esquerda Marcone e o centro-avante Didi. Assistir ao jogo do Vila nova era ler uma poesia. Nesse campo também jogamos com nosso time de seis, descalços. Joguei pelo Internacional [camisas tradicional do Inter/RS dos anos 80] de Isaque Negão, filho de seu Isaías, dono da mercearia onde comprávamos pão até de madrugada [na quadra 2]. Coitado do véi, se levantava com o lençol cobrindo-lhe, mas nunca atendeu de cara feia. Ainda joguei pelo inter [camisas brancas e um vermelho claro] de Derli, jogador rápido e inteligente, que infelizmente perdeu um pé em um acidente e parou de jogar [Nessa época, Derli atuava pelo Botafogo de Doutor (time de 11), com André Charuto, outro craque de bola]. Esse time, o Inter, ainda tinha o Marco perneta, craque canhotinho, apesar de sua deficiência. Depois ainda passei pelo Cruzeiro de Lincol.

     Enfrentei diversos times da ramadinha, recém-formada; do Pedregal; o Grêmio de Sandrinho {Michael Jackson}, que era recheado de craques como Andinho {um Denner}, Rostand {Meia que lembrava Neto}; e o time, Também Grêmio, mas apelidado de Pano de chão, pela péssima qualidade de seu uniforme.

     Sai ali da esquina de Eli e Manuel.
    
   ...de repente após adentrar-se à Ezequias Trajano, “a outra rua”, como a chamávamos na infância, no Dinamérica, em Campina Grande, passei por Seu Edmilson-buchão, que olhava a casa abandonada em construção ao lado da sua, vi sua esposa e duas filhas, uma magra e a outra que namorou com Anderson [Pulga], irmão de Creck. Não lembro do nome delas. Vi a casa de Alexandro, Janaína e da Jararaca [Júnior duas bocas], do saudoso e eterno Bruno Negão – grande amigo, filho de roberto, negão gente boa. Eu não gostava do cachorro hiperbólico que tinha. Vi a casa  de Tarcísio Peba – o ninja kkkk,  de Alisson macaquinho – do pão, Raniere, Isabelle, Marlene e Ibiapino, candidato a vereador pelo PT, Neuma e Roberto, Socorro Prástico [de elástico júnior e Borrachinha], oh, da linda e sumida Raquel, de Anderson e Alisson Creck  [o homem que voava com borboletas e fazia de calangos cachorros de estimação, com direito a passeios].

     Estava parado naquele chão onde joguei minhas melhores e mais emocionantes partidas de futebol, junto àquela árvore de algaroba da casa de Valbênia. Vi Bruno e Débora que apenas nos olhavam jogando e brincando. Passei na casa de Laerte, seu barriga, de Alisson progresso, de Antinho, de Aldinho, de Noêmia, de nosso amigo Bega, de Genilda, de Aroldo e de outros tantos como Feroz – Joselito. Inesquecível! Era muito louco. Quando chegou na rua a primeira coisa que fez foi apagar minha pista de fichinha cross. Léo, Penha, Bruninha, nosso amor da igreja Cristã no Brasil. Todos eles estava lá e me olhavam, quase imóveis.
     
     Deparei-me então com a casa do negão Isac e Marli, do filho que batia bombo. Tive o receio de infância. Segui adiante um pouco mais naquela rua de terra, olhando sempre atentamente tudo. Passei em frente a Macklein, de Toinho  [cara gente boa demais. Confesso que aprendi demais com ele e os meninos também. Talvez ele tenha nos ensinado com sua educação e gentiliza coisas que alguns pais esqueceram], onde havia uma carcaça enferrujada de avião. E ali ao lado, ainda está lá no recorte do tempo,.... sim no tempo intocável, o lixo da Macklein, onde pegávamos chicletes e pequenos brinquedos. Era o lugar das novidades! Ainda vi resquícios e pedaços de carrinhos e aviões.

     ...fui um pouco mais adiante e até o pequeno esgoto que vinha da foça ao lado da casa do Sr. Arroz [tínhamos ele como nosso avô] que seguia até a divisa da Rua de Zé e Marco Perneta [amigo o lendário Joelson], inclusive atravessava o matagal cerca de 10 metros após sua casa, onde estava sua mãe, cuidando dos porcos e acenando para mim [ mulher honesta e digna. Ajudou-nos como poucos. No dia em que partir, quero estar onde ela estiver, pois com certeza é um bom lugar.]. Sim, ao lado dela estava a torneira, preta, simples, naquele quintal sem muros, onde pegávamos água doada por ela – por aquele anjo – dona Jandira. A sua frente estava à Rua inclinada e gramada, cheia de ondulações, onde jogávamos futebol com Zé e Derli. Apenas olhei e subi novamente...

     .... esbarrei-me num amigo que triste comentava sobre a perda de sua esposa. Acompanhei-o até sua casa, na Rua Antônio de Brito Lira. Dei-lhe um abraço e segui. Ao passar em frente à casa de Myller Costa Batista – o testa, e como fazia na infância, parei para escutar para ver se ele estava em casa. Escutei-o sim, naquela voz de menino, a falar com sua querida avó e sendo mandado até a casa de madrinha Maria. Pegou sua bike,  branca com detalhes verdes, única, olhou para mim, como quem tivesse visto-me dentro do tempo, mas seguiu como se tivesse visto um fantasma – era apenas um ser de outro tempo. Um encontro fantástico na história. Dessa vez não pretendia roubar a figura de Betinho do Cruzeiro, escondida numa lata de leite, lá no beco do terraço, por trás da lona de caminhão de nosso avô Arroz.

     ...ao olhar para a direita estava o bar de Bau, fechado e em frente a irmã falecida de Derli, galeguinha, devia ter seus 7 a 9 anos, que de alguma forma via-me perfeitamente e acenava dando tchau para mim, sorrindo. Bom vê-la novamente. Ela que não teve tempo de brincar conosco.

    Ah, que saudades Dona Corina! Dei-lhe um abraço. Ela apenas sorriu de leve. paul não estava lá. Vi ainda Bau, Susu - incrível, Airton, Neusa, Tota.

    A casa do Boi da Borborema estava vazia, mas o boi estava lá, largado no terraço, desmontado.

    Segui meu caminho..., e encontrei-me com meu passado, casa 187 – forte emoção, casa sem muros, um pé de goiaba na entrada, onde Lobinha morreu, ao lado esquerdo a barraca de seu Arthur oferecendo geládia. Fui atravessando a calçada feita por um ex-cunhado e falecido, Abraão – pai de Rute Pestinha. Olhei bem para as plantas de mãe ainda intocáveis à esquerda. À direita o pé de palmeira, com suas muitas histórias a contar, um pé de peão e uma árvore de bolinhas, junto ao beco.

    Parei no terraço de piso queimado, onde joguei diversos campeonatos de time de ficha, com Neto no Guarani batendo altas faltas. Procurei imediatamente Lobinha, meu cão, companheiro, aventureiro de muitas jornadas, de conquista de terras mágicas. Mas não o encontrei. Ele não apareceu por lá, no tempo. Mas lá estava diante de mim, deitados no terraço, os gatos Mil, Lorem e Xaninha, que apenas me olhavam, agora sem medo! Aproximei-me daquela janela com uma lasca de madeira quebrada, “brechei”, assim como fazia Lincoly Batista quando ia lá em casa, e não vi ninguém. Casa vazia. Olhei para a porta, apenas encostada e pensei se devia entrar, se tinha o direito de entrar. Aquilo era muito forte!

     Entrei, devagar. Estava tudo silencioso. O sofá rasgado, a mesma Tv - passando o seriado O Gordo e o Magro, a caixa de som preta com rádio antigo de Marcelo Holanda. Olhei em direção a cozinha e deu-me vontade de chorar. Então virei-me a direita e entrei no quarto de mãe. Lá estava a cama dela, o armário pequeno e verde, apenas...

    Ouvi meninos conversando no escuro do quintal. Era Liquitinho e tico. Jogando pedras nos ratos. Ouvi também um choro de menino, embaixo da mesa. Fui lá, aproximei-me. Cabelo de índio, moreno, bochechudo, sujo. Era eu. Tentei tocá-lo, tocar-me, mas não consegui. Ele me disse adeus e que estava com medo. perguntei de quê, mas apenas me disse que eu sabia.

    Agora tenso, voltei-me para meu quarto, onde vivi grandes emoções, sonhos e pesadelos de infância. Abri a porta corajosamente. Vi a janela que dava para o quintal, olhei e estava lá, na casa dos fundos o anjo Fábio [moreno, de olhos verdes, magro e repleto de bondade em seu coração. Foi um cara incrível na vida da família. O bem que muitas vezes faço é em homenagem a ele.]. No quarto apenas uma cama de ferro de Wellington e uma cama de palha, forrada com lençóis brancos e, deitada sobre ela o meu presente, que levantava-se, pegava em minha mão e saía... embora, levando consigo um galho do pé de palmeira!

... e eu ficava ali, sentado no batente da casa, olhando o pouco movimento da Rua, esperando o futuro chegar.........!

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7 comentários:

  1. Muito bom. Viagei no tempo agora. Boas lembranças. Todos vocês foram grandes amigos que nunca esquecerei. Temos que tomar uma coca cola um dia desses.

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  2. Show de bola... Saudosa lembrança. É como observar uma fotografia em preto e branco, cheia de nuanças, que vão de uma infância pobre, a muitos momentos de uma inocente felicidade...

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  3. Boas lembranças. Tempo inesquecível. Grande abraço!

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  4. Momento jamais roubado ou esquecido.

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