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Num dia destes em
que o sol radiante está transmitindo sensações alegres e convidando as pessoas
para um piquenique, ele ia caminho em um das Ruas do bairro das Malvinas, em
Campina Grande, e percebeu que havia uma linda garota, morena, no alto de um
prédio em construção, que parecia querer suicidar-se. Correu bastante para
evitar tal desgraça, subindo cansavelmente aquelas infinitas escadas, ainda em
cimento grosso, naqueles vãos escuros, misteriosos, com leves iluminações. Mas
quando chegou lá, naquele canto do prédio, repleto de metralhas de obras, ela
já estava morta: Não morta no corpo, ainda, mas no espírito. A garota possuía olhos fundos de orelhas,
cabelos despenteados, com saia cinza e blusa preta com pequenos detalhes em branco.
Eram signos de escorpião e virgem. Depois de muito interrogatório e
predisposição em ajudá-la, ela começou a desenrolar sua história, que o deixou
com muita pena, revoltado e, não vou mentir, também interessado, pois a garota,
apesar do aspecto sofrido e doentio, era... era linda, pernas ainda roliças,
seios como o pão de açúcar, cabelos longos e ondulosos como uma cachoeira, pele
morena cor de café com leite e olhos verdes que penetravam o nosso interior.
Misteriosos.
Prometeu, Mário, homem
solteiro, mas casado com sentimentos, que ficaria com ela em todos os momentos até que ela saísse daquela situação. Daí, com
o passar dos dias, surgiu um belo e intenso relacionamento entre eles... Mas
sem pensar em compromisso sério ou casamento. Mário não é um homem de
casamento. É um homem da vida!
Quer saber de algo
importante? Coitado do Mário. Envolveu-se intensamente com aquela mulher,
amando-a e parecendo ser amado. Lembre-se, eu disse “parecendo”. Mário foi
corneado antes de ela falecer, pois o traiu com o Amauri, ex-namorado que
outrora a deixou quando soube que estava com câncer. Por que ela faria isso com
Mário? Consegue entender isso? Nem mesmo
o Mário entendeu o que a levou a largar mão de tudo o que Mário fez por ela,
para simplesmente ficar com alguém que a largou no seu momento mais difícil.
Ela alegou que foi no impulso da tentação e que ele sabia fazer sexo como
poucos. Agora, Amauri, homem que adora mulheres comprometidas, volta só pra
atrapalhar a despedida de Mário e Ceci. Ela, que já estava bem recuperada, mas
teve uma recaída devido à depressão. Ela entrou em mim e disse-me que sua mente
estava perturbada e parecia escura, nebulosa e que não conseguia controlar mais
suas emoções e pensamento. Fiquei apenas em silêncio, tentando entender o
comportamento humano, brigando comigo para não julgá-la.
Quando Mário soube
da traição, não sabia o que fazer. Colocou as mãos sobre a cabeça, louco. Os
dedos deslizavam sobre os pequenos cabelos aquela cabeça semiraspada e baixa. Não
foi ao enterro só de raiva, pensou em ir para o prédio em que a encontrou para
suicidar-se. Caminhou lentamente, confuso. Depois pensou que deveria mesmo
matar Amauri. Enfim, terminou por deixar estes pensamentos suicidarem-se sós e,
numa noite escura e chuvosa, foi para seu quartinho em um bairro bem perto da
favela. Chegando lá em meio a tempestade, todo molhado, viu que seus pertences
haviam sido destruídos pela força daquela chuva. Agora desabrigado, faminto e
solitário, Mário não se sentia desprivilegiado pela vida e nem o contrário. Mário
simplesmente não se sentia. Estava anestesiado. Saía em direção à favela do
morro para ver se encontrava algum lugar que pudesse comprar alguns alimentos.
Foi subindo aquele beco escuro e repleto de esgotos estourados. Ao atravessar o
lamaçal da entrada do morro, encontrou um garoto chamado de bicudo que tentou
roubá-lo, mas Mário foi casmurro e incisivo mesmo estando morrendo de medo por
dentro. Aquele garoto resolveu ajudá-lo por algumas moedas. Seguiu-o por
caminhos escuros e densos que pareciam a estrada para o inferno. Ao lado de
cada rua e beco percorrido, havia muita lama, fezes, rezas, transas, fumos,
fumantes, fumaças, aleluias e a AIDS de braços dados com a miséria brincando
com algumas crianças numa praça que parecia o lixão. Chegaram a uma casa simples,
sem reboco, e com pouca segurança onde lhe disse que lá haveria pão. Foi
convidado gentilmente pelo residente para entrar e sentar ao chão frio. Depois
de alguns cochichos, o pai da família pediu algum dinheiro achando que fosse um
gringo, logo conseguiu enganá-los denunciando ser do morro vizinho e que estava
na miséria, na morte e no inferno..., tendo apenas trinta moedas de real.
Em meio ao encanto
que sentira na carência e na presença da filha do morador, alimentava-se
roubado por dois pães e um copo de café que lhe tiraram até o último centavo. O
alimento descia ao seu interior disputando espaço com a excitação nas belas
nádegas daquela morena, que seus olhos estavam tão dedicados que via até os
poros dela. O coração estava acelerado. E ficou ainda mais, mas dessa vez não
causado pela sensualidade da garota. O medo e o desespero aceleraram seu
coração, que se elevou com a chegada do Lampião do morro, namorado da moça
favela. Tão luciferiano que fazia os olhos do seu sogro, por livre e espontânea
obrigação, se dilatar e os nervos tão exaltados que quase entravam em transe.
Mário, escondido numa sala clara e sem objetos... pensava na morte do mal. O Belial
e seus anjos da coca encontrou-o no faro
de um homem trainte, traidor, traído... traindo
e que traído pela sua soberba e auto confiança, que havia planejado tudo com Mário na
claridade do quarto vazio, quase foi morto. A alma, o espírito e Mário desciam
o morro numa corrida egoísta e atlética, e nem mesmo o suor quis ficar naquele
lugar.
Refugiado na bebida de um boteco para aliviar
seu desespero, que o fazia esquecer-se de Ceci, Mário continuou errante em suas
escolhas, enamorou-se por uma garota de nome Tereza, mulher prostituta, sem que
os outros saibam ou nem ela mesma se considere assim, que seduziu-o com um
olhar e lábios de uma prostituta e... beijos, embrasamento, fogo infernal,
excitante, agoniante, desesperante, palpitante, apalpante, penetrante e... um
não. Beijo sem transa, manso, inocente, constrangedor, revoltante. Vira alguém
chegar e lavá-la amante, cheirante... e um bilhete caído ao chão com um nome:
Amauri.
Magno Holanda
PIX: magno.holanda@hotmail.com
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