sexta-feira, 22 de abril de 2016

ESPELHO: Uma imagem de si?




Por MAGNO HOLANDA

     Era uma vez ...

    Encontrei um homem num casarão velho e abandonado. Bem, eu ia de passagem naquele lugar seco, quente, e que nem mesmo os lagartos residiam por lá; acho que há muito não chovia; tava delirante, mas quando vi aquele casarão antigo, histórico e quase rendido aos crimes do tempo e ao desprezo da vida e das pessoas que faziam juras de amor, logo fui levado pelo seu espírito até seus batentes. A subida foi lenta, lenta, lenta, sempre numa preocupação curiosa a cada passo dado: parecia suspense.
Bem, o que interessa é que quando Pedro me viu ficou espantado, parecia ter visto um defunto. Sentei num banco velho na sala onde havia poucos objetos; uma mesa cupinada, alguns ratos e um espelho embaçado. E Pedro? Estava lá calado: apenas me olhava atentamente como que fosse a ultima vez. Seu silêncio me amedrontava e me doía muito; falava telepaticamente. Eu via tudo o que ele dizia; estava escrito em seus olhos úmidos, tensos e ao mesmo tempo indecifráveis.
Perguntei: ei, você quer desabafar?
Apenas lascou no pensamento: quem é você afinal?
Soletrou uma palavra, apenas: Helena. Logo me fez refletir a história: Estava na esquina de 1998 quando esbarrou religiosamente em Helena, a troiana, mas esta nem mesmo o reparou. Seus olhos fitos, servos, adoradores e estelares não seguiam o mesmo caminho que o corpo, mas iam de encontro a Helena até que desapareceu no vão do tempo..................................................................................................tempo  que fez ambos viverem e apenas um entregar sua alma ... rejeitada..., fúnebre..., outros amores, outras almas...em vão. O amor platônico de Pedro ordenava-lhe que não amasse outra, enquanto isso uma solidão lhe era companhia fiel, nos momentos alegres e tristes, na dor e na saúde e no buquê. Muito sexo ambos faziam; na cama, no banho, no sofá e no  imaginário que ejaculava as ruas próximas.
O último inesperado encontro entre as almas de Helena e Pedro se deu numa noite dos enamorados e dos cupidos: olhar brilhante entre ambas, pareciam que se abraçavam apenas com os olhos. Muito silêncio de Pedro e muita força de amor e esperança e fé e ...Helena, mulher forte, seca mas não sensual, saiu sem mesmo lhe falar.
Pés apressados, fantasias nos dentes, sorrisos nas palmas das mãos, cores vivas na roupa e sua chegada, em sua bela casa com seus jardins floridos do amanhecer, foi cheia de novidades para se contar ao travesseiro..., e logo  Pedro e Helena estavam juntos e se amaram bastante e intensamente como ele sempre desejou, enquanto isso a solidão saiu corneada e angustiada para suicidar-se, pois já havia apegado-se demais a Pedro. Helena sumiu depois daquele momento sem falar e Pedro, desesperado, acordou em gritos, estando deitado com sua antiga companheira, que o consolava.

Pedro, assim que terminara de contar sua história para o espelho embaçado, quebrou-se o espelho e viveram separados para sempre...               


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sexta-feira, 1 de abril de 2016

LEMBRANÇAS: BEM TE VI



Por MAGNO HOLANDA



   O encanto de menino que vê magia em tudo e que mesmo o sofrimento é poético. Estava na Rua Antônio de Brito Lira, 187, quando mãe passou com ela na mão. Achei incrível a cor dela. Acho que bege, a cor dos ônibus da Cabral, na época Viação Santa Rosa, onde meu pai, Geraldo Fantasia, trabalhava.

    
    Fui imediatamente atrás de minha mãe, que havia a colocado em cima da mesa como se não fosse algo tão importante. Enquanto isso eu estava impressionado. Queria brincar com ela, mas mãe não deixou. “isso não é de brincar, menino”, dizia ela.

   Todos os dias, ia e olhava escondidamente e sempre de olho para mãe não soltá-la fora. Sinceramente, eu já vivia com a tesoura nas mãos. Queria soltá-la e fazê-la voar, mas mãe não deixava. Que maldade! Que mãe não deixa o filho brincar com algo tão belo? Sim, ela estava lá, presa, com seu papo amarelo e suas asas pretas. Realmente muito bela! Nos meus sonhos, ela cantava “Bem te vi”. Até que um dia aconteceu. Eu vi do terraço de minha casa. Foi tudo inesperado e mágico. Queria escutá-la mil vezes, se possível. Era a minha primeira vez. Nunca tinha visto. Apenas escutado sobre seu canto. Sim, escutado seus belos cantos semelhantes à voz humana. Ou foi a voz humana que imitou seu canto?

   ...sei de uma coisa, ela estava lá fazendo parte de minha infância, incrível! Até os dias de hoje me comovo ao vê-la: Margarina Bem Te vi!!!!

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